Maria


Se o jornalista Rossini teve a oportunidade de crescer e passar boa parte da sua juventude e sua vida adulta frequentando o São Luiz, a geração da sua filha, a estudante de psicologia Maria Barreira (21), não teve a mesma oportunidade. O centro da cidade já não era mais um lugar agradável e seguro para se passear com a família. Maria só pôde conhecer o Cinema após a reabertura do local como patrimônio cultural de Pernambuco, quando seu pai a levou para a exibição do filme Tatuagem (uma das grandes obras do atual cinema pernambucano).

Maria já frequentava o centro da cidade há algum tempo, via o São Luiz com frequência, mas nunca o conhecera de verdade. "Foi meu pai quem tomou a iniciativa de me apresentar ao Cinema. Ele sempre adorou aquele lugar e ainda não tinha voltado lá desde sua reabertura, em 2009". Ela lembra qual foi a sua reação ao entrar no local pela primeira vez: "foi incrível, fiquei maravilhada; a riqueza de detalhes simplesmente me impressionou. Eu não estava acostumada com aquele modelo de exibição, pois eu nunca pude conhecer, de fato, um cinemas de rua".

"Só depois que comecei a estudar na Universidade Católica (no bairro da Boa Vista), já na minha maior idade, é que pude realmente viver e desfrutar do centro, mas não por acaso; de fato, a minha geração vem construindo lentamente, ao longo dos últimos anos, um processo de retomada cultural dos bairros centrais". Foi através desse processo que ela começou a conhecer espaços como o Museu de Arte Moderna Aluísio Magalhães (MAMAM); que ela viu ressurgir o Pátio de São Pedro; a ressignificação do Pátio de Santa Cruz; a chegada de eventos como o Som na Rural (que propõe o aproveitamento de praças e espaços públicos para ações culturais) e viu movimentos como o Ocupe Estelita emergirem, trazendo consigo a contestação do modelo de vida urbana empreendida na capital pernambucana e intensificando o debate pelo direito à cidade. Foi a partir dessa vivência, que Maria Barreira chegou ao São Luiz e passou a entender a relevância não só do Cinema, mas de todos esses espaços.

"Estamos revivendo um espaço que é e sempre foi nosso, mas que esteve esquecido por muito tempo; muita gente não conhece o centro da cidade e isso muito triste" comenta a estudante de psicologia, "essa retomada dos bairros centrais é muito importante, não só por uma questão urbanística, mas também cultural, econômica, política e histórica; trata-se da nossa identidade como recifense". Para ela, manter vivo o Cinema São Luiz, assim como os seus vizinhos e parceiros de resistência cultural é manter vivo o centro do Recife. São duas histórias que não se separam. 

Por: João Estrela
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